Comunicado nº 05/2024
São Paulo, 01 de Fevereiro de 2024
MST lança carta compromisso com a luta e o povo brasileiro no marco de seus 40 anos
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) lançou no último sábado (27) a ?Carta Compromisso do MST
com a Luta e o Povo Brasileiro?. Divulgada ao final da reunião da Coordenação Nacional do Movimento, a carta
foi apresentada durante o Ato Político em Comemoração aos 40 anos da organização.
?Reafirmamos o compromisso que assumimos há quarenta anos atrás: lutaremos até que os males do latifúndio sejam
extintos de nossa sociedade e com ele toda opressão, miséria, destruição ambiental e fome,? destacou trecho da carta.
O material aponta ainda os desafios do Movimento na defesa dos bens da natureza e na organização para o
7º Congresso Nacional do MST, que será realizado em julho.
Confira a carta na íntegra:
CARTA ABERTA DO COMPROMISSO DO MST COM A LUTA E O POVO BRASILEIRO
Quarenta anos depois que mulheres e homens, trabalhadores rurais, tiveram a ousadia e a coragem de desafiar
o latifúndio e criar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, nós, integrantes da Coordenação Nacional do MST,
nos reunimos em nossa Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP).
Nos reunimos para celebrar nossa ancestralidade indígena, africana e camponesa de tantas lutas históricas do povo
brasileiro e para celebrar a longevidade da nossa organização.
Nos reunimos para celebrar a conquista da terra. Somos 450 mil famílias assentadas e mais de 65 mil famílias acampadas.
Nos territórios libertados das cercas da ignorância e da miséria, organizamos centenas de cooperativas, agroindústrias
e escolas do campo. Celebramos a dignidade dos que agora produzem alimentos e protegem a casa comum, nossa mãe Terra.
É esta dignidade e altivez que inspiram a luta pela Reforma Agrária Popular a enfrentar a violência das milícias rurais
e a lentidão do Estado, sem recuar na firme decisão de fazer cumprir a Constituição brasileira: a terra deve ser democratizada
para cumprir sua função social de produzir vida digna à população camponesa, alimentos saudáveis e preservar a natureza.
Celebramos a organização dos trabalhadores e trabalhadoras que enfrentaram com coragem e determinação o golpe de 2016,
os retrocessos dos direitos e o desprezo pela humanidade do governo Bolsonaro na pandemia da Covid-19. Com resistência ativa
nos acampamentos e assentamentos, construindo a Reforma Agrária Popular, priorizamos a vida, fortalecemos as ações de
solidariedade e as mobilizações populares em todo o país.
Esta organização foi determinante para eleger o Presidente Lula e sua vitória eleitoral foi um marco importante na luta
internacional contra a ofensiva da extrema-direita. Construímos e participamos desta conquista. E, apoiamos todas as
iniciativas do governo para enfrentar a fome, a miséria, o desemprego e para reindustrializar o país sobre novas bases
sustentáveis. O Presidente Lula tem diante de si muitos desafios e obstáculos e sabe que somente a mobilização e a
participação popular são capazes de realizar as transformações estruturais que nossa sociedade tanto precisa.
Nestas quatro décadas, enfrentamos inúmeras tentativas de criminalizar a luta social. Nenhuma organização sofreu tantas
ameaças de Comissões de Parlamentares pelas forças conservadoras. Celebramos e agradecemos a solidariedade que recebemos
diante da tentativa fracassada da bancada ruralista e da extrema-direita em nos criminalizar com a abertura de uma CPI
]contra o MST, que também buscou intimidar o governo Lula.
Nos preocupamos com o acirramento dos conflitos no campo, marcado pela criminalização e pelos assassinatos de lideranças
quilombolas, indígenas e camponeses Sem Terra por todo o país.
Iniciativas como ?Invasão Zero? estimulam a escalada de violência das milícias de Latifundiários e setores do Agronegócio
em defesa do atraso e de um dos maiores índices de concentração de terras no mundo. Nos solidarizamos aos familiares dos que
tombaram na luta pela terra, na defesa dos bens da natureza e reconhecimento de seus territórios.
Promotora da morte, a Bancada Ruralista aprovou a liberação desenfreada do uso dos agrotóxicos, atacou as terras indígenas,
despejou dinheiro em falsas soluções para a crise climática e financiou a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023.
Nos preocupamos que o primeiro ano do governo Lula terminou com o mesmo número de famílias acampadas do início do seu mandato.
As possibilidades para resolver esse passivo são muitas, desde que haja determinação do governo em enfrentar a grilagem e a
concentração agrária que historicamente marcou a estrutura fundiária brasileira.
Isso exige ainda um orçamento para o Ministério do Desenvolvimento Agrário e para o INCRA que seja capaz de retomar as
políticas públicas para a reforma agrária em 2024, e que tenha condições reais de estruturar e fortalecer a organização
daqueles
e daquelas que produzem alimentos saudáveis, zelam da natureza e promovem justiça social.
A Reforma Agrária é uma ação estruturante e estratégica para combater diversas mazelas econômicas e sociais em nosso país,
como a destruição da natureza, o desmatamento e o garimpo ilegal, a fome que assola a vida de milhões de pessoas, a concentração
da renda e poder.
Por isso, nos comprometemos em seguir lutando pela democratização do acesso à terra, zelando pelos bens da natureza e pelas
garantias dos direitos dos povos e comunidades do campo, das águas e das florestas em exercer a autonomia em seus territórios.
Reafirmamos nosso compromisso com o povo brasileiro e com a construção de uma nação mais justa e igualitária através da luta
e da construção da Reforma Agrária Popular. Mais do que a democratização da terra, a reforma agrária, para nós, deve produzir
alimentos saudáveis para alimentar todo o povo brasileiro, proteger os bens comuns da natureza e construir uma vida digna no campo.
Nos comprometemos em lutar contra a crise climática criada pelos países do Norte Global, pelos ricos do mundo, pelas
transnacionais poluidoras e pelo agronegócio. Nos comprometemos com a preservação dos bens comuns da natureza e mantemos
nossa meta de plantar 100 milhões de árvores e exigimos que os governos assumam o compromisso com o Desmatamento Zero e uma
política massiva de reflorestamento.
Nos comprometemos em lutar contra todas as formas de opressão e injustiça, em enfrentar incansavelmente toda forma de racismo,
discriminação e LGBTfobia. Somos solidários e não nos calaremos diante do genocídio do povo palestino em Gaza, conduzido pelo
Estado de Israel e pelos Estados Unidos, e nem diante da prisão ilegal de Julian Assange, ativista da democratização da informação
e denunciante dos crimes de guerra dos Estados Unidos.
Por fim, reafirmamos o compromisso que assumimos há quarenta anos atrás: lutaremos até que os males do latifúndio sejam extintos
de nossa sociedade e com ele toda opressão, miséria, destruição ambiental e fome.
Queremos reafirmar estes compromissos na luta cotidiana, mas especialmente, em nosso VII Congresso Nacional, a ser realizado em
julho deste ano em Brasília (DF).
E, convidamos o povo brasileiro a celebrar nossa cultura e nossa produção e em conhecer a atualização de nosso Programa de
Reforma Agrária Popular e o que propomos para construir um campo e um país de vida digna e saudável!
Viva o povo brasileiro! Viva a luta popular!
Lutar, construir Reforma Agrária Popular!
Rumo ao VII Congresso Nacional do MST!
Escola Nacional Florestan Fernandes, Guararema, 27 de Janeiro de 2024.
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ? MST
O Centenário de RAUL PREBISCH, por Celso Furtado. Texto N.1
CELSO FURTADO,” EM BUSCA DE NOVO MODELO. Reflexões sobre a crise contemporânea” Cap. VI. O CENTENÁRIO DE RAUL PREBISCH (SP : Editora Paz e Terra, 2002) Texto N.1, selecionado para o ICF/APD * _______Celso Furtado, sobre Prebisch e Cepal* “As Nações Unidas haviam criado a COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA em começos de 1948, fixando sua sede na capital do Chile, país autor da proposta e que muito se empenhara em sua aprovação. Mas não fora fácil encontrar alguém à altura para dirigir sua secretaria executiva. Nesses primeiros meses estávamos absorvidos em nossas tarefas... Inesperadamente circulou um estudo de natureza teórica preparado por um consultor independente: Raúl Prebisch. Raúl Prebisch chegara à CEPAL em fevereiro de 1949. Criador e diretor geral do Banco Central da Argentina, de 1934 à 1943, ele havia comandado a bem sucedida política de estabilização, particularmente em 1938, e recebera elogios dos mais variados círculos internacionais . Era, sem luga...
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