REFLEXÕES E COMENTÁRIOS SOBRE OBRA DE CELSO FURTADO
UMA SELEÇÃO DE TESES SOBRE CELSO FURTADO
REFLEXÕES DO PROFESSOR JOSÉ LUIS CARDOSO (PORTUGAL)
Parte III - Desenvolvimento e Subdesenvolvimento
Capítulo XIII - Celso Furtado e as encruzilhadas do desenvolvimento
Celso Furtado (1920-2004) pode e deve ser considerado, sem
exagero nem controvérsia, como o mais importante economista
brasileiro de todos os tempos. As suas contribuições originais, no do-
mínio da economia e política do desenvolvimento, fazem dele uma fgura
marcante da história do pensamento económico da segunda metade do
século XX. Ultrapassou em larga escala o âmbito brasileiro e latino-a-
mericano das suas motivações intelectuais e políticas, sendo hoje re-
conhecido como autor relevante nas áreas em que prestou contributos
metodológicos e analíticos de caráter inovador.
Apesar do merecido reconhecimento de que tem sido alvo, a projeção
de Celso Furtado na cena internacional foi certamente prejudicada pela
menor divulgação da sua obra em língua inglesa. É certo que alguns dos
seus livros e ensaios foram traduzidos em inglês, sendo também abun-
dantes as traduções em espanhol, francês e italiano. Porém, a repercussão
dos seus escritos nos círculos e circuitos internacionais de produção e
difusão de pensamento econômico não terá sido tão ampla como seria de
de desejar.
O alcance inovador das suas contribuições mereceria maior destaque.
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Texto publicado, originalmente, em Análise Social, 2015, Vol. L, nº 214, pp. 26-4, e republi-
cada nesta Coletânea com a autorização da Revista e do autor.
JOSÉ LUIS CARDOSO É investigador coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de
Lisboa. Publicou vários artigos em periódicos referenciados pelo ISI e Scopus, coor-
denou a Coleção Obras Clássicas do Pensamento Econômico Português e foi co-fun-
dador da revista The European Journal of the History of Economic e é sócio efetivo da
Academia de Ciências de Lisboa.
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REFLEXÕES DO PROFESSOR NIEMEYER ALMEIDA FILHO
📄 "A utopia pragmática de Celso Furtado – o futuro possível" by Niemeyer Almeida Filho
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qua., 10 de set., 02:20 (há 2 dias)
A utopia pragmática de Celso Furtado – o futuro possível
Niemeyer Almeida Filho
1
Resumo: o artigo trata dos últimos escritos de Celso Furtado. Há uma caracterização, a partir deles, do
que seria uma marca de sua obra: a utopia pragmática. Além disto, há o desenvolvimento de uma possível
explicação para o pouco uso da obra do autor nos cursos de desenvolvimento sócio-econômico, seu tema
predileto. A explicação tem a ver com a amplitude do seu pensamento em comparação com o seu relativamente
menor esforço de formalização, esta considerada indispensável ao padrão da pós-graduação em economia em
vigor no Brasil.
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ceci vieira jurua
dom., 31 de ago., 03:41 (há 12 dias)
Posfácio a Celso Furtado, "Correspondência Intelectual 1949-2004"
By Luiz Felipe de Alencastro
posfácio ao livro de Celso Furtado, “Correspondência Intelectual 1949-2004” org. Rosa
Freire d’Aguiar, Companhia das Letras, SP, 2021.
REFLEXÕES DO PROFESSOR LUIS FELIPE DE ALENCASTRO
As cartas e a biografia de boa parte dos personagens que aparecem neste volume
desenham os dramas e a resiliência de toda uma geração numa etapa conturbada e decisiva da
história contemporânea. Nos textos selecionados por Rosa Freire d’Aguiar a partir da vasta
correspondência de Celso Furtado com amigos, intelectuais e atores políticos, desponta o pós-
guerra, o ressurgimento da democracia e a criação de uma nova ordem internacional, na qual
se destacam as atividades e as expectativas geradas pela Cepal. Porém, duas décadas depois da
vitória Aliada contra o fascismo, irrompem novas ditaduras, dramas e exílios encerrados por
uma redemocratização que Celso Furtado e vários de seus interlocutores latino-americanos
viveram intensamente.
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REFLEXÕES DO PROFESSOR ALEXANDRE BARBOSA
Há várias formas de abordar o pensamento de Celso Furtado. Pode-se focar na sua contribuição no campo da economia. Na maestria com que aprumou o método histórico-estrutural para escrutinar o movimento da história brasileira na longa duração. Na maneira como logrou injetar racionalidade na esfera política apostando no aprofundamento da democracia. Ou como processou as “influências” de vários autores das ciências sociais para moldar uma interpretação original. E como articulou a economia a outras dimensões da vida brasileira – a cultura, a política e a sociedade –, sem praticar o imperialismo econômico. Pode-se ainda ressaltar a trajetória do intelectual e de como ela se faz sentir na sua produção, de tal modo que a obra e o intelectual aparecem fundidos ao processo histórico.
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Em primeiro lugar, o positivismo, com a defesa da primazia da razão e do conhecimento científico como fonte do progresso. A segunda influência
encontra-se em Marx, pela ênfase na historicidade das formas sociais, aprofundada com a leitura de Mannheim, que, mesmo não sendo marxista, encara o conhecimento como produtor de história. Rompe-se assim a oposição entre conhecimento científico e ideológico. A terceira corrente está associada à antropologia cultural dos Estados Unidos, via Gilberto Freyre, especialmente pelo instrumental metodológico de conceber os fenômenos, não em si, mas na sua interação cultural.
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Portanto, Pirenne lhe permite demarcar a transição entre sistemas econômicos (MALLORQUIN, 2005, p. 61-63), a “economia comercial” e a “economia
industrial”: a primeira, capaz de estabilizar-se secularmente; e a segunda, “condenada a crescer ou decrescer”, pois se retiver os lucros reduz a renda de outros grupos à maneira keynesiana (FURTADO, [1961] 1965, p. 152-153). Mas também lhe é útil para explicitar a diferença entre os “rentistas ociosos” do açúcar colonial e a “vanguarda de homens com experiência comercial” que presidem a gestação da econômica cafeeira no século XIX (FURTADO, [1959] 1989, p. 114-115) em Formação econômica do Brasil.
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O núcleo de autores economistas é conformado por Keynes, Schumpeter, Perroux, Myrdal e Prebisch, assimilados a partir dos trilhos metodológicos traçados acima. Furtado ([1980] 2000, cap. 3) refere-se a esses economistas como aqueles que exerceram “influência sobre a nova visão do desenvolvimento” formulada pela geração de estruturalistas latino-americanos. O resultado da combustão, no seu caso específico, é uma forma de pensar a economia enraizada na história e no espaço, e que avança em conjunto com as estruturas sociais.
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