O CAFÉ BRASILEIRO E OS LUCROS AMERICANOS

Site logo image Paulo Gala / Economia & Finanças Read on blog or Reader O Café Brasileiro e os Lucros Americanos: Como os EUA Transformam Commodities em Indústria Bilionária By PAULO GALA 19/08/2025 1. O café brasileiro, embora produzido em larga escala no Brasil, tornou-se um insumo essencial para a economia dos Estados Unidos. O país importa o grão cru e o transforma em um produto de alto valor agregado, movimentando cadeias produtivas que vão muito além da simples torrefação. Esse processo garante margens expressivas de lucro para a indústria americana, ao mesmo tempo em que projeta marcas globais de café, como Starbucks e outras, que dependem fortemente da matéria-prima brasileira. 2. Apesar de os EUA serem grandes consumidores, sua produção doméstica de café é mínima, restrita a pequenas áreas no Havaí e em Porto Rico. Essa dependência torna o café importado vital para abastecer o mercado interno. O Brasil, como maior produtor e exportador mundial, é peça-chave nesse sistema, garantindo fornecimento em escala e qualidade. Isso faz do café um insumo estratégico, equiparado a outros produtos que sustentam setores inteiros da economia americana. 3. O impacto econômico do café vai muito além da agricultura. Estima-se que a indústria do café nos EUA sustente quase 2,2 milhões de empregos, abrangendo desde logística e processamento até serviços e consumo em cafeterias. O grão cru brasileiro, ao entrar barato no país, multiplica seu valor em diversas etapas, gerando uma economia robusta e altamente lucrativa. Assim, o café se insere como um dos melhores exemplos de como uma commodity importada pode ser transformada em riqueza doméstica. 4. Esse peso econômico fez com que associações industriais americanas, incluindo setores como o químico e o siderúrgico, se manifestassem junto ao USTR (United States Trade Representative) para que o café fosse retirado da lista de produtos sujeitos à taxação adicional imposta pelo governo Trump. A justificativa é clara: tributar o café encareceria custos, reduziria margens e prejudicaria empregos em uma cadeia produtiva vital para o país. 5. O debate sobre tarifas mostra como o café brasileiro se converteu em ativo político nos EUA. Por um lado, há pressões para proteger indústrias locais contra importações; por outro, reconhece-se que o café não possui substituto doméstico em escala, e qualquer restrição seria autodestrutiva. Assim, a tendência é que, em algum momento, o café seja isento dessas sobretaxas, reforçando sua condição de insumo estratégico e intocável. 6. A conclusão que se tira é que os EUA obtêm ganhos extraordinários ao importar café cru, principalmente do Brasil, e transformá-lo em uma indústria bilionária de consumo e serviços. Esse caso ilustra como a integração global pode ser assimétrica: enquanto o Brasil permanece como exportador de matéria-prima, os EUA capturam a maior parte do valor agregado e dos empregos. A discussão abre espaço para reflexões sobre política industrial brasileira e a necessidade de desenvolver marcas e indústrias que retenham parte maior desse valor. Comment

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