DESNACIONALIZAÇÃO E DEPENDÊNCIA DA ECONOMIA BRASILEIRA
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Desnacionalização e Dependência: O Papel do Capital Estrangeiro no Desenvolvimento Brasileiro
By Paulo Gala on 08/05/2025
A série histórica do Banco Central sobre a participação estrangeira na economia brasileira confirma uma tendência de profunda desnacionalização iniciada na segunda metade dos anos 1990. Esse período marcou um “salto quântico” na presença do capital estrangeiro. Entre 1995 e 1999, a relação entre o investimento estrangeiro direto (IED) e a formação bruta de capital fixo saltou de 2,5% para 24,6%, o que resultou em um crescimento significativo do controle estrangeiro sobre o estoque de capital fixo — de 6,8% para 12,4%. O impacto também se manifestou na elevação da participação estrangeira no estoque líquido de riqueza nacional (de 5,7% para 9,7%) e no valor bruto da produção (de 13,5% para 24,6%).
A despeito da narrativa comum de que o Brasil é um país fechado ao investimento estrangeiro, os dados apontam o contrário. O país apresenta um grau de abertura ao IED superior ao de grandes economias como Estados Unidos, China, Índia, Rússia e Japão, conforme demonstrado pelos indicadores da OCDE e pela própria série do BACEN. A alta participação do IED no PIB brasileiro, conforme retratada nos dados de 1995 a 2022, revela uma inserção internacional significativa, que deveria ser analisada à luz de suas implicações estratégicas e estruturais para o desenvolvimento nacional.
No entanto, a dependência de capital estrangeiro impõe sérios desafios ao desenvolvimento autônomo. Multinacionais tendem a manter suas atividades estratégicas, como pesquisa e desenvolvimento (P&D), nos países de origem, assegurando o controle político e econômico centralizado. Essa prática, conforme discutido por autores como Batista Júnior e Gilpin, reflete a interseção entre a rivalidade entre Estados e a competição oligopolista global, na qual as corporações operam internacionalmente, mas permanecem essencialmente nacionais. Isso contrasta com o racional liberal, que defende uma atuação empresarial descolada de interesses estatais, ideia que se mostra cada vez mais inadequada frente ao cenário geopolítico atual.
A centralização geográfica dos investimentos em P&D reforça essa assimetria. Dados da Comissão Europeia mostram que 84% das 2.500 empresas que mais investem em PD&I estão sediadas nos EUA, China, União Europeia e Japão. Ainda que multinacionais, essas empresas realizam entre 70% e 91% de seus investimentos em inovação nos próprios países de origem, dependendo da região. Isso evidencia uma forte vinculação entre origem nacional e agregação de valor, demonstrando que o simples aumento da presença de capital estrangeiro não garante transferência tecnológica ou ganhos duradouros para o país receptor.
Apesar dessas evidências, o debate público brasileiro raramente problematiza os riscos e limitações da crescente penetração do IED. A chegada de capital estrangeiro e a presença de grupos transnacionais são frequentemente celebradas como sinais de dinamismo, sem consideração pelas formas como esses investimentos se alinham — ou não — aos objetivos de desenvolvimento do país. Uma política nacional mais crítica e estratégica deveria buscar condicionar a entrada de IED à transferência de tecnologia, à geração de empregos qualificados e ao fortalecimento da base produtiva e científica local, articulando a globalização com um projeto nacional de progresso técnico e soberania econômica.
https://www.bcb.gov.br/content/publicacoes/relatorioidp/RelatoriaID2023/RID_2024.pdf
https://www.bcb.gov.br/content/publicacoes/relatorioidp/RelatorioID2022/RID_2023.pdf
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