PETROBRÁS, PRIVATIZAÇÃO DA BR DISTRIBUIDORA
(artigo retirado do boletim da AEPET)
BR: a triste privatização da segunda maior empresa do país
02 JulhoEscrito por Cláudio da Costa Oliveira e Eric Gil DantasLido 3636 vezes
Em 4 anos, BR gerou em lucros líquidos mais de 40% do que será arrecadado com a venda
Nesta sexta-feira (2), a Petrobrás oferta o restante de suas ações da BR Distribuidora, 37,5% do total da empresa, e assim privatiza completamente a ex-subsidiária da estatal. Criada em 1971, a Petrobras Distribuidora (futura BR Distribuidora) à época já contava com 840 postos pelo país – hoje, em 2021, a empresa possui 8.058, e no último dado do Anuário Estatístico da ANP, no ano de 2019, tinha sua bandeira em 17,2% de todos os postos do país, sendo ainda a maior distribuidora do Brasil. Ela foi responsável por fatos históricos do mercado de derivados, como ser a primeira a oferecer Gás Natural Veicular (GNV) e a primeira a oferecer biodiesel em 100% do território nacional. Foi uma empresa fundamental para o desenvolvimento deste mercado no país. Hoje, considerando o valor de Vendas Líquidas utilizada pela Exame (Melhores e Maiores 2020), a BR é a segunda maior empresa do Brasil, perdendo apenas para a própria Petrobrás.
Em dezembro de 2017, a Petrobrás fez a primeira IPO (Oferta pública inicial, em sua sigla em inglês), vendendo 28,75% das ações da empresa e arrecadando à época pouco mais de R$ 5 bilhões. Em julho de 2019 vendeu mais ações, arrecadando R$ 9,25 líquido (sendo R$ 13,95 bilhões antes dos impostos) e deixando definitivamente de ter a maioria no Conselho de Administração, e consequentemente descaracterizando a BR como uma estatal. Com a entrega da BR, a Petrobrás perdeu mais de 10% de sua receita. A partir da precificação já feita no dia 31 de junho, a venda derradeira da BR será de um valor de R$ 11,36 bilhões.
Apesar de parecer um valor alto, isto não é exatamente verdade. De 2017, ano da primeira venda de ações da BR, até o primeiro trimestre deste ano, a empresa já acumula R$ 10,95 bilhões em lucros líquidos e R$ 9,67 bilhões em fluxo de caixa operacional, este último podendo ser visto no Gráfico 1. Ou seja, em pouco mais de 4 anos a BR já gerou em lucros líquidos mais de 40% de tudo o que a Petrobrás terá arrecadado com sua privatização.
Gráfico 1 – Fluxo de caixa operacional da BR Distribuidora por exercício (em bilhões de R$)
Fonte: BR Distribuidora
Mesmo se comparada às suas concorrentes, a BR é uma empresa com maior poder de geração de resultados. Não é sem motivo que ela é a maior empresa do setor. Como podemos ver no Gráfico 2, no ano de 2020 a BR teve um EBITDA (Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização, na sigla em inglês) maior do que seus dois principais concorrentes, a Ipiranga e a Raízen Combustíveis Brasil. Em termos de lucro líquido, a BR também teve o melhor resultado dentre as três no ano de 2020.
Gráfico 2 – EBITDA de 2020 por empresa (em milhões de R$)
Fonte: BR; Ultrapar; Raízen
Um dos argumentos a favor das privatizações da Petrobrás, e que não possui nenhum lastro na realidade, é o de que a menor participação da estatal na cadeia de petróleo e gás fará diminuir o preço dos seus produtos. Há alguns dias, o próprio presidente da Petrobrás, Silva e Luna, repetiu isto para o caso do refino em audiência pública na Câmara dos Deputados. Mas obviamente isto não ocorrerá. Na verdade, a tendência é exatamente a oposta. No caso do refino, especificamente, estudos já demonstram que nascerão monopólios regionais privados, e como consequência estas empresas terão liberdade para aumentar seus preços à vontade. Já na distribuição e revenda, mesmo com a perda do controle da Petrobrás na BR, o que vimos foi o recorde de preços nos combustíveis (como pode ser visto no Gráfico 3), e não diminuição de preços.
A implementação da nova política de preços para derivados, baseada em preços do mercado internacional e adicionado custos de importação, a Paridade de Preço Internacional (PPI), é justamente para permitir o aumento do preço dos combustíveis. Trata-se do maior preço possível a ser cobrado, um teto. Inclusive, nenhum país no mundo que tenha reservas de petróleo e refinarias adota o PPI. Como a perda de poder estatal no setor terá o efeito oposto do que é pretendido pelo próprio governo? Não tem lógica nenhuma.
Gráfico 3 – Preço da Gasolina Comum e do Diesel S-10 entre outubro de 2016 e maio de 2021 (em valores reais de maio de 2021
BR: a triste privatização da segunda maior empresa do país
02 JulhoEscrito por Cláudio da Costa Oliveira e Eric Gil DantasLido 3636 vezes
Em 4 anos, BR gerou em lucros líquidos mais de 40% do que será arrecadado com a venda
Nesta sexta-feira (2), a Petrobrás oferta o restante de suas ações da BR Distribuidora, 37,5% do total da empresa, e assim privatiza completamente a ex-subsidiária da estatal. Criada em 1971, a Petrobras Distribuidora (futura BR Distribuidora) à época já contava com 840 postos pelo país – hoje, em 2021, a empresa possui 8.058, e no último dado do Anuário Estatístico da ANP, no ano de 2019, tinha sua bandeira em 17,2% de todos os postos do país, sendo ainda a maior distribuidora do Brasil. Ela foi responsável por fatos históricos do mercado de derivados, como ser a primeira a oferecer Gás Natural Veicular (GNV) e a primeira a oferecer biodiesel em 100% do território nacional. Foi uma empresa fundamental para o desenvolvimento deste mercado no país. Hoje, considerando o valor de Vendas Líquidas utilizada pela Exame (Melhores e Maiores 2020), a BR é a segunda maior empresa do Brasil, perdendo apenas para a própria Petrobrás.
Em dezembro de 2017, a Petrobrás fez a primeira IPO (Oferta pública inicial, em sua sigla em inglês), vendendo 28,75% das ações da empresa e arrecadando à época pouco mais de R$ 5 bilhões. Em julho de 2019 vendeu mais ações, arrecadando R$ 9,25 líquido (sendo R$ 13,95 bilhões antes dos impostos) e deixando definitivamente de ter a maioria no Conselho de Administração, e consequentemente descaracterizando a BR como uma estatal. Com a entrega da BR, a Petrobrás perdeu mais de 10% de sua receita. A partir da precificação já feita no dia 31 de junho, a venda derradeira da BR será de um valor de R$ 11,36 bilhões.
Apesar de parecer um valor alto, isto não é exatamente verdade. De 2017, ano da primeira venda de ações da BR, até o primeiro trimestre deste ano, a empresa já acumula R$ 10,95 bilhões em lucros líquidos e R$ 9,67 bilhões em fluxo de caixa operacional, este último podendo ser visto no Gráfico 1. Ou seja, em pouco mais de 4 anos a BR já gerou em lucros líquidos mais de 40% de tudo o que a Petrobrás terá arrecadado com sua privatização.
Gráfico 1 – Fluxo de caixa operacional da BR Distribuidora por exercício (em bilhões de R$)
Fonte: BR Distribuidora
Mesmo se comparada às suas concorrentes, a BR é uma empresa com maior poder de geração de resultados. Não é sem motivo que ela é a maior empresa do setor. Como podemos ver no Gráfico 2, no ano de 2020 a BR teve um EBITDA (Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização, na sigla em inglês) maior do que seus dois principais concorrentes, a Ipiranga e a Raízen Combustíveis Brasil. Em termos de lucro líquido, a BR também teve o melhor resultado dentre as três no ano de 2020.
Gráfico 2 – EBITDA de 2020 por empresa (em milhões de R$)
Fonte: BR; Ultrapar; Raízen
Um dos argumentos a favor das privatizações da Petrobrás, e que não possui nenhum lastro na realidade, é o de que a menor participação da estatal na cadeia de petróleo e gás fará diminuir o preço dos seus produtos. Há alguns dias, o próprio presidente da Petrobrás, Silva e Luna, repetiu isto para o caso do refino em audiência pública na Câmara dos Deputados. Mas obviamente isto não ocorrerá. Na verdade, a tendência é exatamente a oposta. No caso do refino, especificamente, estudos já demonstram que nascerão monopólios regionais privados, e como consequência estas empresas terão liberdade para aumentar seus preços à vontade. Já na distribuição e revenda, mesmo com a perda do controle da Petrobrás na BR, o que vimos foi o recorde de preços nos combustíveis (como pode ser visto no Gráfico 3), e não diminuição de preços.
A implementação da nova política de preços para derivados, baseada em preços do mercado internacional e adicionado custos de importação, a Paridade de Preço Internacional (PPI), é justamente para permitir o aumento do preço dos combustíveis. Trata-se do maior preço possível a ser cobrado, um teto. Inclusive, nenhum país no mundo que tenha reservas de petróleo e refinarias adota o PPI. Como a perda de poder estatal no setor terá o efeito oposto do que é pretendido pelo próprio governo? Não tem lógica nenhuma.
Gráfico 3 – Preço da Gasolina Comum e do Diesel S-10 entre outubro de 2016 e maio de 2021 (em valores reais de maio de 2021)
Fonte: ANP; IBGE [Elaboração própria]
Além disso, a privatização da BR abre maior margem para a criação de cartéis na distribuição. O Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul já investiga suposta formação de cartel pelas distribuidoras de combustível que atuam naquele estado. Sem uma estatal forte no setor, o Estado tem menos força para impedir problemas como este.
Por tudo isto, a privatização da BR é mais uma grande derrota para os brasileiros. Privatizamos a segunda maior empresa do país e entregamos 10% das receitas da Petrobrás aos especuladores da Bolsa de Valores, por isto a euforia do mercado. Não podemos permitir que o saque às nossas estatais continue, temos que impedir a entrega do patrimônio brasileiro aos clientes do rei!
Cláudio da Costa Oliveira, economista da Petrobrás aposentado
Eric Gil Dantas, economista do Ibeps e doutor em Ciência Política
_______________
em 03 de maio de 2022, a FUP - FEDERAÇÃO DE PETROLEIROS - publicou :
Após privatização, postos da BR Distribuidora vendem a gasolina mais cara do país
03 maio 2022 15:49
Os postos de combustíveis da BR, que não pertencem mais à Petrobrás, vendem hoje a gasolina mais cara do Brasil. A ex-subsidiária é controlada pela Vibra Energia, que, além de ter se apropriado da maior distribuidora de combustíveis do país, ainda foi beneficiada com o direito de utilizar a marca da Petrobrás por 10 anos.
Ao comentar o fato, a representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobrás, Rosangela Buzanelli, lembra que a ex-subsidiária foi criada em 1971 para romper com o cartel das multinacionais e garantir a distribuição de combustíveis e lubrificantes para o nosso país. E assim atuou por várias décadas, até ser parcialmente privatizada em 2019 pelo governo Bolsonaro.
Rosangela ressalta que, ao abrir mão da BR Distribuidora, o governo entregou ao setor privado “não apenas a segunda maior empresa do Brasil, mas também a maior fatia do sétimo mercado consumidor de derivados do planeta. Inegavelmente, um “ativo de classe mundial” como os neocolonizados gostam de denominar”.
A privatização completa da empresa foi concluída em julho de 2021, com a entrega do terço final das ações da BR que ainda estavam sob controle da Petrobrás. A ex-subsidiária passou, então, a ser controlada pela Vibra Energia, mas continuou utilizando a marca BR e o nome Petrobrás nos postos. A permissão do uso da marca por 10 anos fez parte do processo de privatização, o que, na opinião de Rosangela, foi uma forma de entregar junto com a BR “a credibilidade construída em décadas, garantindo a fidelidade dos clientes e o mercado cativo. Um negócio de mãe pra filho”.
O diretor da FUP, Pedro Lúcio Goes, em seu perfil no Twitter, também questionou a diferença gigantesca entre o valor que a Vibra desembolsou para comprar a BR e o faturamento que obteve no ano passado, vendendo combustíveis precificados em dólar e com paridade de importação:
Marca brasileira e preços em dólar
Os postos da BR continuam usando o mesmo símbolo em seus letreiros e a mesma identidade visual nacionalista, com as cores que remetem à bandeira brasileira. O visual não mudou, mas, em compensação, o preço da gasolina disparou. “Isso é mais uma prova irrefutável privatizar faz mal ao Brasil”, ressalta a conselheira eleita, fazendo referência à campanha ao slogan dos petroleiros contra as privatizações.
“Em fevereiro, já havíamos falado sobre os preços da gasolina e do diesel cobrados pela Refinaria de Mataripe, nossa primeira refinaria, a RLAM, privatizada em dezembro do ano passado. A refinaria baiana tem, atualmente, os valores mais altos do mercado”, afirma Buzanelli.
“Esses fatos demonstram o que alertamos desde sempre: a privatização encarece os preços e piora a qualidade dos produtos e serviços. E isso já está fartamente comprovado no país, com a telefonia, boa parte do setor elétrico, abastecimento de água e saneamento básico. A política de privatizações socializa o investimento e privatiza o lucro”, alerta a conselheira da Petrobrás.
A venda da BR Distribuidora e da RLAM reforçam que a privatização da Petrobrás não é solução para o país. Quem arca com o prejuízo é a população, que paga preços dos combustíveis, cada vez mais caros, enquanto os acionistas privados da Petrobrás ficam cada vez mais ricos.
[Com informações do blog de Rosangela Buzanelli]
Publicado em: Destaque Principal, Preços dos Combustíveis, Sistema Petrobrás
Tags: aumento da gasolina, aumento dos combustíveis, BR Distribuidora, PPI, preço dos combustíveis, preços abusivos dos combustíveis, venda da BR, venda da Petrobras aos pedaços
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) foi criada em 1994, fruto da evolução histórica do movimento sindical petroleiro no Brasil, desde a criação da Petrobrás, em 1953. É uma entidade autônoma, independente do Estado, dos patrões e dos partidos políticos e com forte inserção em suas bases.
________________
O Centenário de RAUL PREBISCH, por Celso Furtado. Texto N.1
CELSO FURTADO,” EM BUSCA DE NOVO MODELO. Reflexões sobre a crise contemporânea” Cap. VI. O CENTENÁRIO DE RAUL PREBISCH (SP : Editora Paz e Terra, 2002) Texto N.1, selecionado para o ICF/APD * _______Celso Furtado, sobre Prebisch e Cepal* “As Nações Unidas haviam criado a COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA em começos de 1948, fixando sua sede na capital do Chile, país autor da proposta e que muito se empenhara em sua aprovação. Mas não fora fácil encontrar alguém à altura para dirigir sua secretaria executiva. Nesses primeiros meses estávamos absorvidos em nossas tarefas... Inesperadamente circulou um estudo de natureza teórica preparado por um consultor independente: Raúl Prebisch. Raúl Prebisch chegara à CEPAL em fevereiro de 1949. Criador e diretor geral do Banco Central da Argentina, de 1934 à 1943, ele havia comandado a bem sucedida política de estabilização, particularmente em 1938, e recebera elogios dos mais variados círculos internacionais . Era, sem luga...
Comentários
Postar um comentário