NOTICIAS DA ECONOMIA EM TEMPO DE ELEIÇÕES GERAIS
Por Ceci Juruá
1. O véu monetário e suas "ilusões"
"É dificil imaginar que o congelamento nominal ...dos salários do funcionalismo e a compressão das despesas discricionárias, que ameaça o funcionamento da máquina pública e causa depreciação do capital público, sejam mantidos em 2023. (..) [ Mas vem daí} a melhora nos dados fiscais agregados:
-------------- o saldo primário do setor público acumulado em 12 meses , que chegou ao recorde negativo de -9,33% do PIB em janeiro de 2021, transformou-se em superávit de 2,48% em julho de 2022, o melhor resultado desde junho de 2012.
--------------- já a dívida bruta do governo geral (DBGG) caiu de 89% do PIB em fevereiro de 2021 para 77,6% em julho de 2022, voltando praticamente ao nível de março de 2022...
Acima, trato de dois exemplos que permitem tornar palatável uma conjuntura econômica ameaçadora. O candidato aprecia...
Fonte: jornal Valor A-2, de 06-07-2022, coluna de Luiz Schymura
2. Segmentos beneficiados pela inflação e outros "favores"
Artigo intitulado "Emissão no mercado externo deve voltar a gerar interesse de empresas" é seguido por anúncio do FUNDO MULTIMERCADO DO ASA HEDGE informando que
-------------- este fundo rendeu 41,74 % nos últimos 12 meses, enquanto o CDI rendeu apenas 10,20 %
Sabe-se ainda que Asa Investments foi fundada por Joseph Albert Safra.
Outra informação diz respeito ao vínculo entre "ativos locais" (que sobem com) e "commodities". Enquanto o IBOVESPA sobe o dólar recua ante o real. Entre as commodities destaque é o futuro do petróleo tipo Brent, com alta de 2,92% em dólar segundo previsão para novembro. O viés de alta dos preços do petróleo decorre de decisão da OPEP, que promete reduzir 100 mil barris na produção diária. (Valor de 06-09-2022, B2)
--------------- entre as vantagens desse mercado cartelizado , podemos citar a capacidade de desnacionalizar o mercado interno (brasileiro) de derivados de petróleo (utilizando preços internacionais no mercado interno!!!), e ampliando a remessa de dividendos pagos pela PETROBRÁS, para fora do Brasil .
Como exemplo de troca desigual, são conferidos subsídios aos preços internos (cobrados no Brasil) com recursos que , de outra forma, seriam receitas de Estados e Municipios brasileiros (o ICMS).
Observar ainda que, graças a Lei Kandir, as nossas exportações de commodities são isentas de TRIBUTOS e, ainda, gozam da vantagem de gerar créditos tributários que se transformam em gastos tributários do Estado brasileiro.
---------------- enquanto tudo isto acontece, o presidente do BC, reiterando a comunicação de política monetária informa : "a mensagem que continua valendo hoje é a mensagem do Copom" ... "vamos ter 3 meses de deflação, mas a batalha não está ganha". (Valor, p.lA8) Em linguagem popular, entende-se que os juros vão continuar elevados, justificando o controle da inflação, pelos menos até as eleições.
Frente a tal comunicação, digo eu
---------------- ainda há quem pense que o BC não faz política... Pergunto: onde ? na China ?
Ao lado da foto do presidente do BC, figura matéria com um título assustador: EXECUTIVOS QUEREM VER REFORMAS E MAIOR RIGOR FISCAL ( idem, Valor de hoje, p.A8). Mais reformas, mas rigor... contra quem ?
No mesmo jornal, outro título também me causa arrepios : MERCADO DE DIVIDA TENDE A AQUECER LÁ FORA E ATRAIR (EMPRESAS) BRASILEIRAS (p. c-6) A matéria informa que há lá fora investidores com grande interesse por emissões de empresas brasileiras. Mas esperam que os preços relativos mudem. Por enquanto o mercado local é mais vantajoso, dizem. Explico que se trata de emissão de dívida externa.
Mas... penso eu, se o Banco Central acelerar as intervenções isto pode mudar, fazendo com que o mercado local perca as vantagens atuais .. aí poderemos até disputar um clima semelhante ao que vigorou nos anos 80 ! Valha-me Deus. Vencemos aqueles anos 80, mas foi dificil. O preço foi alto, altissimo, conforme vimos na década que chamo de perversa, a década de 1990.
3. QUE OUTROS FAVORES ?
Continuando com o jornal Valor, lemos declaração do candidato a governador no estado de MG, A. KALIL, anunciando sua intenção de devolver ao povo um imposto que é do povo. Segundo ele:
----------------- "Não pode [a pessoa física] pagar 4% de IPVA e o bilionário pagar 1%. "O candidato acrescentou que há 1 bilhão em isenções enquanto o orçamento para combate da fome é de R$ 85 milhões" (p.A-15, matéria de Mariana Ribeiro e Lilian Venturini)
Ampliando o carnaval de favores a empresas e aos bilionários do nosso maltratado Brasil, ficamos ainda sabendo que há inúmeros favores concedidos , em São Paulo, a entidades declaradas de utilidade pública. Destacam-se com tal efeito duas normas, a Lei N. 10.112 de 04.12.1998 e o Decreto N.22.695 de 13.09.1998. Por sinal, anos prévios a uma disputa eleitoral para governador do Estado de SP. Entre os favores, ou benefícios concedidos por tais normas destacam-se : desconto de 50% nas contas de água e luz, e também - autorização para a celebração de convênios com o poder público estadual e municipal -.
Convênios... ora , ora , de que tipo, quais finalidades ? a pesquisar.
Parece, dizem, que através dos citados Decreto e Lei, acima, foram criados dutos milionários para certas famílias, certos grupos ....
Dá pra ver, que aquela antiga República café-com-leite, MG/SP, tenta ou já conseguiu renascer no nosso Brasil ....
Estará de fato renascendo a República café-com-leite? das cinzas da Era Vargas, a cujo triste desfecho assistimos, com a entrega da Eletrobrás e de parcelas da PETROBRÁS ao capital internacional e às altas finanças, forças em vias de um assalto final por meio da implantação de um Governo Global !!! Tão simples assim ?
Será este o nosso futuro próximo ?
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Para terminar este modesto informe com "Noticias da Economia" de hoje, cabe ainda destacar que o jornal Valor estampa mais um belo artigo do renomado economista, e colunista de Valor, Luiz Gonzaga Belluzzo.
------------ (Des)caminhos da finança global (Valor, p.A19)
Neste que é mais um de seus belos artigos, Belluzzo relembra posições radicais de Keynes em favor da administração centralizada e pública do sistema internacional de pagamentos e de criação de liquidez. Pois Keynes imaginava, diz Belluzzo, que o controle de capitais deveria ser "uma característica permanente da nova ordem econômica mundial do pós-Guerra.
Mas, continuando, "Para ser efetivo, esse controle envolveria provavelmente uma engrenagem de administração estrita do câmbio para todas as transações, mesmo se o balanço em conta corrente estiver em geral aberto."
Tudo indica que os diretores atuais do Bacen não concordariam com tal posição. O que não me choca. Espantoso mesmo é verificar que os candidatos a cargos públicos ignorem esta questão e não abram o debate em torno das contas e dos tratados internacionais, principalmente no que se refere a uma abertura tipo "portas escancaradas" e de certa forma irresponsável, da conta de capitais do BP do Brasil. Além disto, há um grau indesejado de desnacionalização de nossos ativos produtivos. Grau indesejado e de alto risco. Até onde e até quando ?
Frente a tais questões, como se comportarão nossos deputados e senadores ? precisamos saber.
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O Centenário de RAUL PREBISCH, por Celso Furtado. Texto N.1
CELSO FURTADO,” EM BUSCA DE NOVO MODELO. Reflexões sobre a crise contemporânea” Cap. VI. O CENTENÁRIO DE RAUL PREBISCH (SP : Editora Paz e Terra, 2002) Texto N.1, selecionado para o ICF/APD * _______Celso Furtado, sobre Prebisch e Cepal* “As Nações Unidas haviam criado a COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA em começos de 1948, fixando sua sede na capital do Chile, país autor da proposta e que muito se empenhara em sua aprovação. Mas não fora fácil encontrar alguém à altura para dirigir sua secretaria executiva. Nesses primeiros meses estávamos absorvidos em nossas tarefas... Inesperadamente circulou um estudo de natureza teórica preparado por um consultor independente: Raúl Prebisch. Raúl Prebisch chegara à CEPAL em fevereiro de 1949. Criador e diretor geral do Banco Central da Argentina, de 1934 à 1943, ele havia comandado a bem sucedida política de estabilização, particularmente em 1938, e recebera elogios dos mais variados círculos internacionais . Era, sem luga...
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