A década de 1980 , no Brasil
Idéias (MINHAS) para repensar o Brasil (2 de X)
Comentei outro dia que ao longo da década de 1980 houve mudanças irresponsáveis na configuração institucional e cultural do Brasil, mudanças substantivas que podem ser vistas como a ante-sala das derrotas políticas que nos atingem desde 2015.
Minha primeira observação a respeito, foi o surgimento de ataques à democracia representativa e a proposta de transformação, em busca da participação popular direta. Daí o surgimento da bandeira - democracia participativa - , que levou Olivio Dutra ao governo do Estado do RGSul. Foi também em razão da preferência pela idealizada democracia participativa que se criaram Conselhos junto ao governo federal, Conselhos para debater idéias ou objetivos caros aos governantes. Ora ora... E o Congresso Nacion al ?
Parece-me que, na atualidade, as duas configurações acima indicadas perderam sentido e aplicação prática, no Brasil. Os que estão no Congresso Nacional e que deveriam ser representantes do povo, não respondem mais à idealizada soberania popular. Aliás o próprio sentimento popular, ou as preferências individuais, estão perdendo personalidade / individualidade, por aderência a entidades ou a ideários de
representação plural (igrejas, associações, sindicatos, etc).
No plano das reivindicações econômicas houve também grandes mudanças em matéria de políticas governamentais. Lembrando o heróico
comício de março de 1964, podemos afirmar que , naqueles anos, a bandeira preferida pelos simpatizantes do trabalhismo getulista era a reforma agrária. Porque permitiria a melhoria das condições de vida dos milhões de brasileiros camponeses, "servos de glebas", operários mal pagos, agregados em várias modalidades de "servidão consentida", etc, que poderiam, com a reforma agrária, ser elevados socialmente à condição de pequenos proprietários rurais.
Mas lutávamos também, em 1964, por uma reforma universitária que permitisse o acesso de um bem maior número de brasileiros à universidade pública. Reivindicávamos também um sistema de crédito capaz de viabilizar o acesso da maioria dos brasileiros à casa própria.
Sabíamos enfim, naqueles anos em que sofremos o primeiro grande golpe de Estado pró-imperialismo norte-americano, que estávamos lutando contra o imperialismo, aqui presente com a malfadada Doutrina Monroe. Sonhávamos com a tal "democracia burguesa" capaz de enfrentar, politicamente, as raízes estruturais da dependência, no caso as perdas internacionais vinculadas à deterioração dos preços das trocas internacionais.
Todas essas frentes de luta, vinculadas, corretamente, à geração e à apropriação do excedente econômico, foram abandonadas, esquecidas. Guardou-se apenas o efeito daquela situação - a luta contra as desigualdades.. Bandeira que engana. Porque não vai às causas. Como combater as desigualdades sem enfrentar o problema central do capitalismo em país periférico : a exportação e apropriação por cartéis e trustes internacionais do excedente aqui gerado, graças ao suor e à inteligência dos brasileiros ? Impossivel.
Além desta monossilábica pauta, introduziu-se a questão das pautas não econômicas, as questões identitárias. A exemplo dos Estados Unidos. Mas lá, esta mudança foi essencial e positiva. Tratava-se de não atacar o capitalismo na pátria do império capitalista. Foi uma questão de auto-defesa. Aqui o efeito é outro. Colocando as pautas identitárias no centro da política nacional, evitamos abordar a questão essencial - a espoliação internacional, o imperialismo, as Altas Finanças internacionais, a ação predatória de trustes e cartéis internacionais. Absolvemos sem julgamento o inimigo e oferecemos, em troca, a cabeça de nossos irmãos e irmãs. Não foi uma troca fraterna.
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Por que não o Paraíso?
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