A transparência do BC no Brasil e nos EUA  Os bancos centrais brasileiro e americano divulgaram suas decisões no mesmo dia. Um deles foi transparente, o outro ficou devendo.  Cláudio Gradilone fonte:  ricardobergamini (matéria do site de Ricardo Bergamini) 05/11/21  Manhã da quarta-feira (3) em Brasília. Logo cedo o Banco Central (BC) divulga a Ata da 242ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que elevou os juros em 1,5 ponto percentual. O documento tem seus tradicionais 19 parágrafos. No 15º, a informação de que os membros do Comitê discutiram a necessidade de uma alta superior à decidida. Detalhe: no 18º parágrafo da Ata da reunião anterior o Copom anunciava uma alta de 1 ponto percentual e antecipava “outro ajuste da mesma magnitude”. Apesar de a alta superior ao anunciado ser defensável, a decisão foi contra o afirmado pelo próprio Copom semanas antes. Mais: informou que a alta havia sido aprovada por unanimidade, algo que ocorreu em todas as reuniões do ano. Tarde da mesma quarta-feira em Washington, DC, Estados Unidos. Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, concede a tradicional entrevista que se segue às reuniões do Federal Open Market Committee (Fomc), modelo do Copom. Powell anuncia o que até a águia de pedra na fachada do imponente edifício do Fed já sabia: ainda neste mês de novembro vai começar a redução da recompra de títulos públicos iniciada em março de 2020. Atualmente em US$ 120 bilhões por mês, o programa vai diminuir em US$ 15 bilhões todos os meses até deixar de existir, em julho do ano que vem.  Explicação necessária. Para conter os efeitos negativos das medidas de isolamento sobre a atividade econômica, o Fed comprou títulos públicos, papéis lastreados por ativos imobiliários e até mesmo títulos de empresas privadas. Isso injetou um oceano de liquidez na economia americana e inflou o Fed. No início da recompra, os ativos financeiros contabilizados em seus livros somavam US$ 4,2 trilhões. Cerca de 18 meses depois são US$ 8,55 trilhões. Essa expansão levou a inúmeras discussões teóricas entre os economistas. Os controladores de um banco privado que dobrasse de tamanho em um ano e meio muito provavelmente seriam “convidados” a sair pelas autoridades que fiscalizam o mercado. Crescimentos tão acelerados não são saudáveis. Porém, bancos centrais são bancos apenas no nome. Sua principal função é definir a temperatura da economia por meio da taxa de juros. Isso os torna muito mais parecidos com os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do que com uma instituição financeira.  Se um banco central crescer demais, ele será considerado mais arriscado? Perderá credibilidade e sua capacidade de estabilizar o sistema nas crises, funcionando como emprestador de última instância? Como buscar essas respostas na prática pode provocar um desastre, é melhor que elas fiquem restritas à teoria. Por isso, há meses Powell vem falando em reduzir as compras. Com cuidado, claro, pois a história já mostrou que esses eventos podem ser traumáticos.  Em 2008, para conter a crise do subprime (sim, a história se repete), o Fed havia injetado US$ 1,5 trilhão na economia comprando créditos podres dos bancos. Em 2013, Ben Bernanke, então à frente do Fed, pegou o mercado desprevenido ao anunciar que pretendia reduzir as compras. Os juros futuros dispararam e as ações desabaram. A derrapada ficou conhecida como taper tantrum, algo como ‘a birra da recompra’. Para evitar algo semelhante, Powell começou a divulgar suas intenções com meses de antecedência. Sem surpresas aqui.  Dois bancos centrais, duas políticas monetárias, dois tratamentos com relação à informação. No caso do Fed, todo o cuidado para não provocar solavancos desnecessários. No caso do BC, além da surpresa, outro fator para pensar. Quem conversa com economistas conhece a velha piada: uma reunião de três profissionais da área para discutir a crise econômica vai resultar em quatro soluções propostas. Em uma área onde a divergência é não só saudável como é parte do processo, vale questionar a persistente unanimidade entre os membros do Comitê. Claudio Gradilone é editor de Finanças da DINHEIRO.

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